segunda-feira, 7 de julho de 2008

Minhas memórias

"Qualquer coisa que se sinta
tem tantos sentimentos,
deve ter algum que sirva"
Socorro, Arnaldo Antunes
Coleções

Sou uma amante assídua de memórias. Aprecio o fato de elas me fazerem suas vitimas e me levarem a distantes e risonhos mundos passados. Não troco lembranças nem por sucos de morango ou sorvete de menta, por mais pavoroso que isso soe.
Recordações são saquinhos fofinhos de veludo vermelho carregados sempre do lado esquerdo. Saquinhos sem fundo, amarrados levemente de modo a novas recordações sempre terem entrada facilitada, mas os amarrilhos são fortes o suficiente para aprisionarem, com conforto, as relíquias da mente.
E não aprecio apenas o fato de carregá-las infindavelmente. Tão fascinante quanto é o sutil prazer em ouvi-las. Sempre estou atenta a pequenas aberturas das douradas amarras alheias, quando seu carregador se vê disposto a dividi-las comigo. Ah, que momento único! Abre-se delicadamente e revivem-se narrativas ingênuas, recheadas de generosas porções de emoção: as tão desejadas maçãs esmagadas cruelmente pelo ônibus apressado; a melhor amiga que passa a ser paixão em seis meses; as tardes preenchidas com pequenos grandes livros; o medo da chuva; o sedutor cheiro de café na casa da vó; orelhas geladas e sorrisos abertos diante do frio paulista; os passeios de trem e metrô no centro velho de São Paulo; a música tocada no rádio no minuto certo. As palavras vão-se escapando, e quase sempre posso ver um sorriso de criança por trás delas. Às vezes, são lágrimas alagando os olhos do narrador, teimando em continuarem nos sinuosos caminhos ópticos. Memórias podem trazer também sentimentos complexos e, por vezes, causam dor. E ao apalpá-las com palavras, noto que compartilhá-las é cura.
A verdade é que gosto e ponto final. Sou uma fiel colecionadora de memórias. As minhas sim. E as de quem quiser contribuir.
Marina Garcia, janeiro/2008

Um comentário:

Dani disse...

"Recordações são saquinhos fofinhos de veludo vermelho carregados sempre do lado esquerdo"
Marina Garcia, você nasceu pra isso, mulher! Agora, quando eu sentir falta das suas palavras, poderei lê-las aqui, mas não pense que eu dispenso suas cartas.Isso, jamais!
Um grande beijo de quem quer contribuir!